domingo, 12 de agosto de 2018

Parceiros do Underground #4: Iuri Cremo (Cultura em Peso)

No quarto episódio do “Parceiros do Underground”, o idealizador do Cultura Em Peso cedeu-nos uma entrevista sobre assuntos como apoio midiático, trajetória no underground e dificuldades no meio independente.


O colunista Iuri Cremo agregou pontos a serem melhorados e trouxe toda a experiência e conhecimento sobre as diversas áreas da música.




Como foi o início de sua trajetória. E quais foram as primeiras influências que o fizeram ouvir Rock/Metal?

Cremo: Eu era um cara que não gostava de música, simplesmente assim hahaha. Sério, não ouvia absolutamente nada, até que um dia na TV apareceu o João Gordo, falando o que era movimento Punk, Hardcore e Ratos de Porão, passou uns takes curtíssimos do som do Ratos de Porão, e ele contando sobre a ideologia da parada toda. Acabou a matéria, desliguei a tv, troquei de roupa e fui em uma loja de discos da cidade (Interior de Goiás - Rio Verde). Pedi um cd do Ratos de Porão, e o cara perguntou, qual? Não tinha internet em casa, era 99 eu acho e eu não sabia absolutamente nada sobre nada. Logo, eu disse, "o último" ahahahah, 30 dias depois chegou, me ligaram e ali começou minha história na cena.

Meu primeiro show foi um Ultraje a Rigor, sabe como é, super interior sem cena, dificilmente teria algo Underground. Meu primeiro contato com a cena mesmo, foi em Anápolis - Goiás, cidade que nasci, em 2003, quando voltei a morar lá, ali aprendi muitas coisas, conheci coisas novas, bandas pesadas do cenário goiano como Urban Cannibals, Ressonância Mórfica e WC Masculino.

Mas basicamente eu comecei pela banda mais foda do Brasil (na minha humilde opinião) e só depois que fui conhecer Metal, Ramones, e todas as variações de estilos, etc. Ratos de Porão é uma salada, é a banda de Metal mais Hardcore, e a banda de Hardcore mais Metal, ótima forma de começar. Eu fui um susto para a família, e um choque para a cidade, apareci de moicano e camisa do Ratos andando pela pacata cidade kkkkk.

Com 12 anos de estrada, o Cultura em Peso é um dos principais nomes da imprensa brasileira underground. No entanto surgiu com o nome de “Caverna Punk”. Como sucedeu a transição do nome? E os dois projetos mantinham o mesmo propósito?

Cremo: Quando criei o Blog eu tinha dois desejos, divulgar e impulsionar a cena, e conseguir entrevistar bandas como Ratos de Porão e Extreme Noise Terror, bandas que eu sempre fui fã. O Caverna Punk foi um Blog bacana que extravasou o número de acessos que eu podia imaginar, lembro que a primeira matéria que eu fiz foi com o saudoso Gepeto, do Ação Direta (Um clássico).

O propósito era divulgar a cena autoral, sempre foi por este caminho, cena autoral do rock ao metal extremo. Chegou um momento que eu precisava de um Site para organizar tudo, porque até as buscas eram difíceis, eu usava um blogspot. Então decidi mudar o nome, por que estava tudo mais amplo e maior do que o projeto inicial e logo precisava de um nome novo.

Eu sempre levei o Underground como uma forma de vida, cultura, jeito de pensar, se expressar, pois a música é arte, e arte é cultura, então em conversas com amigos surgiu o nome Cultura em Peso, porque eu tinha pensando em Cultura Hardcore, cultura hc , peso da cultura, cultura metal, cultura em peso, e acabou ficando assim como está hoje. Cultura em peso, porque eu já falava de todos os estilos de bandas, e Underground é isso, uma Cultura em Peso.

O que o levou a trocar Goiás por Santa Catarina? E houve alguma mudança devido a esse fato com o C.E.P?

Cremo: Na verdade foi Minas Gerais por Santa Catarina. Yes, eu mudei de Goiás e fui para Minas Gerais estudar, morei 6 anos no Triângulo Mineiro, em Uberlândia, cidade que sempre terá lugar cativo no meu coração, lá cresci como pessoal profissional, músico, e "jornalista independente". Outra escola muito boa da cena, conheci muita gente que faz acontecer e ama a parada de verdade, participei da produção/execução de festivais como Jambolada, Udi Rock Scene, Cerradão, e criei o meu próprio festival, o Cultura em Peso Fest, foi lá que o Cultura em Peso foi criado.

A troca MG / SC, foi por qualidade de vida, unicamente, chegou um momento que queria novos ares, e apontei o navio para o Sul.  Quando vim para cá o CEP já tinha um nome sentado no cenário nacional, estruturado, então não senti a mudança de ambiente, e fui muito bem recebido por pessoas do Underground. Previamente antes da mudança busquei pela internet alguma mídia no Sul Catarinense e conheci o Russo da A Hora Hard, e já estando aqui, o Adriano guitarrista da Khrophus.

Lembro que o Russo me disse "Se vier para cá sem apoiar as bandas covers vais encontrar muitas barreiras, hehehe, mas eu como eu sei que isto é assim no Brasil todo, não me importei, por que nossa mídia tem um foco e ele é seguido à risca.

Na trajetória como mídia independente, quais são as principais matérias e postagens que você destacaria?

Cremo: Principalmente a matéria com o Ratos de Porão: (http://culturaempeso.com.br/2013/11/15/entrevista-com-jao-ratos-de-porao/), (Porque veio numa conversa com o Boka baterista da banda, onde ele disse "E aí cara, quando sai uma entrevista do Ratos no Cultura em Peso?", isso foi muito bom pra mim.)

Destaco a entrevista com o Extreme Noise Terror (UK) (http://culturaempeso.com.br/2012/04/04/extreme-noise-terror/) (Por que são outros caras que eu curto muito a mais de década.)

Posso destacar outras matérias, mas deixo claro que todas no Cultura Em Peso tem sua importância para mim, por que o CEP é parte da minha vida:

http://culturaempeso.com.br/2012/03/18/acao-direta-2/ (A primeira matéria feita la no Caverna Punk.)

http://culturaempeso.com.br/2012/03/18/adjudgement/ (Os alemães de um hardcore poderoso.)



http://culturaempeso.com.br/2012/04/07/nueva-etica/ (A principal banda do hardcore Argentino, inclusive esta matéria era para o Portal Revoluta a convite da DEISE, e publicamos instantaneamente em ambos os sites)



http://culturaempeso.com.br/2012/04/14/circulo-activo/ (Gerou uma amizade que dura até hoje, fui muito recebido por eles lá.)

Quem ai tá afim de uma matéria, grita a gente!

Quantos colaboradores fazem parte do Cultura em Peso?

Cremo: Hoje temos 12, mas já tivemos 45. Busco essa reestruturação, nos últimos 3 anos eu diminui bastante a equipe, por que eu mesmo não estava podendo direciona-los da melhor maneira.

Com os problemas de saúde que vieram a findar a vida do meu pai, eu mais acompanhei ele que qualquer outra coisa, e logo não podia estar presente em eventos, ou mesmo poder gerenciar tão bem como deveria a equipe. O Cultura em Peso nunca parou, sempre esteve de pé, mas não da mesma forma.

Este segundo semestre de 2018 é para buscar novos colaboradores e ter a mesma intensidade de outros tempos.

Qual sua visão acerca das mídias atuantes no estado de Santa Catarina?

Cremo: Vejo que nos últimos anos houve um bom crescimento de mídias aqui, algumas morreram ou pararam totalmente com suas atividades. A Hora Hard expandiu suas atividades para fora da região de Criciúma, surgiram vocês da Urussanga, o Subsolo, Underground Extremo e tantas outras. Isto é muito bom não apenas para a região catarinense, mas para o solo nacional, já que hoje todas atendem todo o território e falam de bandas de todos os lados.

Entre as mídias mais próximas vejo uma parceria legal, e uma vontade em deixar as coisas parelhas, num apoio mutuo, algo que anos atrás era muito difícil de conseguir. Sabemos e quem me conhece sabe que não guardo meias palavras, a cena ainda tem muito a aprender, crescer e se unir, ainda existe muita gente com mentalidade egoísta no cenário, e por que não dizer amador e mesquinha.

Neste último ano vimos uma mudança radical nas produções, produtores se unirem, darem as mãos para fazer a cena ressuscitar e este passo está dando certo, e as mídias mais que nunca estão se apoiando, um passo à frente!

O que há para melhorar?

Cremo: Sempre digo que há um quadrado importante que uma das pontas nunca pode se soltar: Público, bandas, produtores e mídias. Estes pontos devem andar em sintonia, com mentalidade mirando adiante. Digo com clareza, há estilos que um puxa o outro para cima, não existe aquela competividade de "somente eu quero aparecer", se eu vou e estou fazendo sucesso, é óbvio que eu preciso que mais gente também faça, sozinho eu não posso representar um estilo a vida inteira.

Vejo estilos como o Sertanejo que uma dupla abraça a outra, ajuda a gravar discos, apadrinha, e /ou leva no show para dar uma palinha, "canta sua música aí", abre espaço, por que eles veem claramente que se todo mundo faz sucesso, o estilo arrebenta, fica em evidência, e todo mundo ganha, por que o Brasil é gigante e tem sim espaço para todo mundo. Quem não se lembra de quando Titãs deu aquela linda mão para os Raimundos? Parece que esse sentimento, essas ações ficaram extremamente isoladas ...

Tem muita (MUITA MESMO), muita banda que sequer compartilha o cartaz do evento que vai tocar, toca tudo em cima da produção, não se preocupa em divulgar, chega no evento e toca metade do repertório de covers "para chamar a atenção do público", e sequer toca suas músicas próprias, que eles se esforçaram para criar ou gravar. Acaba de tocar em vai embora, se não toca, nunca aparece nos eventos, mas sempre cobra "União da cena" na internet, numa clara apresentação de Hipocrisia. Imagina só divulgar uma matéria, dar um like numa entrevista dela mesma, estamos falamos de coisas tão básicas que dá até vergonha de mencionar!

E sobre os festivais, qual sua opinião sobre o Up Rock (União dos festivais e organizadores catarinenses) e o que o mesmo pode agregar para o cenário?

Cremo: Como eu disse ali em cima, foi um grande passo adiante, pois, somente se unindo as coisas andam de verdade. Sozinho você pode chegar, mas unidos, vai muito mais rápido.

Qual procedimento adotado para a escolha de postagens?

Cremo: O primeiro procedimento é ser autoral, o Cultura em Peso é uma mídia autoral desde sua criação, então é sobre isso que falamos sempre, mesmo que haja bandas num festival por exemplo, nós só vamos falar das autorais.
Em segundo lugar damos preferência a quem já tenha material, mas já entrevistamos inúmeras bandas que não tem música gravada, mas tem um vídeo ao vivo no Youtube por exemplo.

Falamos de bandas que vão do rock ao metal extremo, e evitamos bandas de cunho gospel, já que claramente o posicionamento do "estilo" condena o cenário underground, por não seguir as crenças sacras. Grupos que tem ao menos um realease, tem vantagem em ter o material divulgado, por que ao menos se você não conhece aquele grupo, tem uma história dele ali para você ler e ter um norte do que escrever.

Festivais que só enviam o cartaz geralmente são descartados, tu olhas no Cartaz, não tem cidade, nem endereço, as pessoas vão saber como e de onde é aquele evento? Tem que vir com o mínimo de informações junto para você poder divulgar.

Temos mais critérios, mas nada absurdo, 12 anos te dão experiência suficiente para várias coisas do dia a dia.

Como você avalia o Cultura em Peso hoje?

Cremo: Precisa retomar 100% das suas atividades, conforme eu falei lá em cima, as coisas que aconteceram com meu pai tiraram meu norte, e às vezes é difícil se recompor 100% de tudo como você deseja. O Cultura Em Peso está retornando algumas atividades que estavam paradas, e logo voltaremos estar ao 100% em todos os lados.

Leva em conta também muita coisa externa, como algumas bandas que sempre esperam que você coloque elas num pedestal e lustre os coturnos. Muita gente quer sua resenha do álbum, do festival, mas não aceita críticas, não entende que se você está ali, você será observado e vai ser elogiado ou criticado, é a visão de pessoas e não a sua. Já tive banda e já levei um 6.5 de um CD, e fiquei feliz, por que aquilo mostrou onde eu estava bom e onde estava ruim, nem tudo que foi dito era verdade sobre meus defeitos, resta a mim ter a capacidade de saber onde eu devo considerar e onde devo desconsiderar.

Em relação aos novos projetos, há algo em vista?

Cremo: Há o projeto da Assessoria de Imprensa que está pronto, só preciso colocá-lo em prática, parceria feita com jornalista calcado dentro do cenário Underground, e que dá aula em Universidades.

No mais, eu me afastei de produções de eventos há alguns anos, por desmotivação mesmo. Mas sempre me passa pela mente retornar com o Cultura em Peso Festival, é uma ideia que está martelando. Há coisas em mente, mas ainda manterei como segredo, por que não sei se vou colocar de fato em atividade.

Cinco bandas Goianas.

Cremo: Pego pelo próprio veneno? Hahahaha 5 é sempre muito pouco, e eu sempre peço quatro hahahaha:

Urban Cannibals (Grandes irmãos, estão no meu top de bandas favoritas)
Revolted (Só brothers), pena que acabou.
Ressonância Mórfica (Monstros do Death Grind nacional)
Prostibulus (Do meu grande brother Marcelo Tattoo)
WC Masculino (Power violence / Grind para deixar surdo)

Vou me atrever a 4 mineiras por que tu não se lembravas de Minas Gerais hahaha:

Attero (Só tem gente boa aqui)
FMI Crossover (Meu parceiro Roberto, grande guerreiro da cena de Uberlândia)
Uganga (Salve Manu Joker e família Uganga)
Disturbio Sub Humano (Salve Enio)
Sarcasmo (FUDIDOS)
*Krow que infelizmente acabou.

Cinco bandas catarinenses.

Cremo: Khrophus (Clássico e máximo respeito)
Deadnation (Grande Rafael)
Deadpan (Igor \m/)
Pogo Zero Zero (Lédis e PZZ é nois)
Dr. Jimmy (Do gordinho mais amado do estado)

Cinco bandas criciumenses.

Cremo: Enemy (Qualidade gringa)
Silent Empire (Ivan e Ratinho batalhando)
Puredin HC (Clássico HC)
Still Here (Grande Barriga, Cocal, mas eu vou englobar a região hahaha)
Explícita Revolta (Parrot, irmandade, Araranguá vide o mesmo de cima)

Cinco festivais.

Cremo: Vou citar cinco catarinenses e cinco de fora:
Otacílio Rock Festival (É um clássico que nenhum banger pode perder)
River Rock (Por um bom dia, sempre é River Rock)
Agosto Negro (O maior do Sul Catarina)
Fear Fest (Ojalá vuelva!)
Inferno Metal Fest (Criciúma)

Fora do Estado:

Anápolis Metal Fest (Sangue suor bruto, se tem medo de roda, nem chega perto!)
Udi Rock (Uberlândia)
Cultura em Peso (Porque é minha vida)
Goiânia Noise (Goiânia)
Porão do Rock (Brasília)

Em nome da Urussanga Rock Music, agradeço a disponibilidade pela entrevista. Se puder, deixe um recado para os leitores da mídia.

Cremo: Agradeço a parceria e o respeito pelo CEP e por mim. Digo que o CEP fez, faz e continuará fazendo tudo aquilo que tiver a seu alcance para apoiar a cena Underground, sempre sendo autêntico, essa é nossa característica. Deixo abertas as portas do CEP para quem quiser somar sendo um colaborador, não importa de onde você seja, nem se sua cidade é pequena, se você não tem experiência, isso não é problema, basta você ter vontade!

Agradeço a toda equipe que sempre dá o suporte necessário e realiza as atividades para somar. Vanessa Boettcher, Dino, Jéssica Vuaden e Manuella estão sempre na escuta, e além de todos os demais que não dá para citar todo mundo aqui. Os novos que acabaram de chegarem, cada um tem sua parcela neste trabalho pela cena.

Você que só reclama atrás do PC, faça algo pela cena que tu “tanto admiras", some de alguma forma com os eventos, com as bandas, mesmo de casa há muita coisa que se pode fazer.

Contatos:
Instagram: @culturaempeso
Youtube: @culturaempesobr
Pagina : @culturaempeso e perfil @culturaempesobr
Whats: 48 9 9681-6996

Se quiser fazer parte da família chama aí que vamos conversar.
Muito obrigado ao espaço dado para contar um pouco do CEP aqui no Urussanga, valeu Guigo!


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